O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é o nome dado a um conjunto de condições multifatoriais que afetam as funções de neurodesenvolvimento de cada indivíduo de forma única. Em geral, pessoas com TEA podem apresentar desafios na comunicação e interação social, além de ter mais sensibilidade sensorial, ter um conjunto de interesses mais restrito e ter apego a padrões comportamentais. Por tratar-se de uma condição complexa, ela precisa ser compreendida como um espectro, pois existem nuances que variam em cada caso, assim, temos diferentes “tipos” de TEA.
Dados do Center of Diseases Control And Prevention (CDC), revelam que uma em cada 44 pessoas têm autismo, atingindo 1% a 2% da população mundial. No Brasil, nós temos aproximadamente 4 milhões de pessoas com autismo, muitas delas ainda sem diagnóstico ou acompanhamento adequado.
Nesse cenário, o suporte familiar e acompanhamento dos pais é um diferencial no tratamento, uma vez que o diagnóstico precoce pode não só favorecer seu desenvolvimento de modo geral, mas também melhorar a qualidade de vida e convivência desses indivíduos.
Por que a nomenclatura “tipos” de autismo não é mais utilizada?
Existem tipos de autismo? Na verdade, não. Hoje em dia, o autismo não é mais dividido e nomeado por tipos. Esse termo, frequentemente, é utilizado para tornar as buscas por informações sobre o transtorno mais acessíveis — principalmente para os familiares. Mas, hoje, o autismo é entendido como um espectro, essa nomenclatura foi instituída em 2013 pelo documento DMS que representa a classificação correta em relação a transtornos. No entanto, ele pode ser classificado por níveis.
Estudos dirigidos pela American Psychiatric Association (APA) indicam que existem 3 níveis (ou, graus) de autismo com características próprias, sendo eles:
- Nível 1: Autismo Leve;
- Nível 2: Autismo Moderado;
- Nível 3: Autismo Severo.
Isso acontece porque cada pessoa com TEA tem seu próprio conjunto de habilidades e necessidades, tornando-a única dentro do espectro.
Por conta disso, existem até mesmo diferenças dentro do próprio espectro: enquanto alguns indivíduos conseguem realizar a maioria das atividades cotidianas sem apoio, outros já necessitam de um pouco mais de auxílio até em atividades que seriam consideradas simples. Ou seja, elas precisam de níveis diferentes de suporte.
Autismo Leve x Síndrome de Asperger
Em 2023, após a publicação da última edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a síndrome de Asperger deixa de ser um diagnóstico separado, e passa a ser compreendida como parte do espectro autista, sendo muitas vezes considerada como o quadro com maior grau de adaptação funcional. Logo abaixo, confira mais detalhes sobre cada nível no espectro autista.
Autismo leve (Nível 1)
O Autismo leve, ou síndrome de Asperger, é uma condição do espectro autista que caracteriza-se pela dificuldade de interações sociais e comunicação não-verbal, sensibilidade sensorial, além de ter interesse em saber tudo sobre assuntos específicos, como um hiperfoco. Também há um grande apego a rotinas, padrões e comportamentos repetitivos.
Geralmente, pessoas diagnosticadas com Asperger não apresentam comprometimento intelectual ou atraso no desenvolvimento cognitivo, por isso, muitas vezes os primeiros sintomas acabam passando despercebidos pelos pais — especialmente se as manifestações forem leves.
Por conta disso, a grande maioria dos diagnósticos é feita na fase escolar, quando a dificuldade de socialização, manifesta-se com maior intensidade, juntamente com o desinteresse por tudo que não se relacione ao hiperfoco de atenção. Em termos de comunicação, o indivíduo com Asperger desenvolve suas capacidades verbais, sem muitas dificuldades, mas possui certa dificuldade em interpretar palavras de duplo-sentido e sinais não-verbais, que dizem respeito à percepção de emoções.
Q.I elevado e altas capacidades
Por isso, é importante ter em mente que pessoas com autismo veem, ouvem e sentem o mundo de forma diferente das outras pessoas. Elas também possuem inteligência média e por vezes até mesmo acima da média com QI elevado e altas capacidades. Quando não diagnosticadas, essas pessoas podem desenvolver ansiedade e depressão, síndrome do pânico e transtorno obsessivo compulsivo (TOC) durante a fase adulta, o que significa que, ainda que elas tenham altas habilidades, elas precisam de diferentes níveis e tipos de apoio familiar.
O acompanhamento médico envolve uma equipe multidisciplinar com terapia comportamental e treinamento comunicacional. Tudo isso, combinado com o acompanhamento de pais, amigos e professores pode contribuir no aprendizado para um convívio melhor e maior independência dessas pessoas, tanto em família, quanto em sociedade.
Autismo Moderado (Nível 2)
O Autismo Moderado (Nível 2) é reconhecido pela dificuldade acentuada de comunicação funcional e interação social. Pessoas nesse nível têm dificuldades significativas para iniciar e manter conversas, interpretar expressões faciais e compreender nuances de linguagem. Comportamentos repetitivos, hiperfoco e hipersensibilidade sensorial também são características comuns entre os níveis.
Pessoas com TEA moderado têm um pouco mais de dificuldade em lidar com mudanças de rotina, ou de ambiente, uma vez que essas podem causar níveis de ansiedade e estresse significativo. Nesse ponto, a flexibilidade social desses indivíduos pode ser mais limitada, elas podem se sentir mais confortáveis em manter interações limitadas e com pessoas específicas.
Em geral, indivíduos com TEA de nível 2 necessitam de algum suporte para lidar com demandas sociais e atividades do dia a dia. Nesse sentido, compreender e entender o diagnóstico autista é algo que ajuda a família e a própria pessoa no espectro a aprender como se relacionar com o mundo ao seu redor. Neste nível, o acompanhamento médico também envolve a colaboração de diferentes tipos de profissionais de saúde e da educação.
Como o acompanhamento médico pode ajudar?
Participar de sessões de terapia comportamental pode ajudar no desenvolvimento de habilidades sociais e reduzir comportamentos desafiadores. Enquanto, sessões de terapia fonoaudiológica podem auxiliar na comunicação em si. Já a terapia ocupacional pode contribuir com habilidades úteis para a vida diária. Com o apoio adequado, pessoas com TEA de nível 2 podem levar vidas significativas e independentes.
Autismo Severo (Nível 3)
O Autismo Severo (Nível 3) é caracterizado por desafios significativos na comunicação, interação social e comportamento. De modo geral, temos tudo que está presente nos níveis 1 e 2. Mas, há o complicador da linguagem verbal muito limitada, ou até mesmo ausente. Além disso, a falta de interesse de compartilhar ou expressar emoções, e a ausência de resposta a interações sociais faz deste quadro o mais acentuado do espectro.
Pessoas com TEA nível 3 têm necessidade substancial de suporte em diferentes áreas da vida, elas podem ter dificuldade para seguir instruções e entender o significado de perguntas. Muitas vezes, quando há ausência de comunicação verbal, eles podem usar comportamentos desafiadores (como gritos e agitação) para comunicar suas necessidades. No dia a dia, mudanças de rotina ou situações sociais também podem causar ansiedade e frustração.
Como o acompanhamento médico pode ajudar?
Nesses casos, o diagnóstico precoce combinado com acompanhamento profissional e apoio familiar
é um fator decisivo para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. O tratamento do autismo severo tem o objetivo de tentar fazer com que esses indivíduos, através de um tratamento intensivo, consigam migrar para um nível moderado ou, dependendo da consolidação cognitiva para um nível leve.
No entanto, nem sempre isso é possível, muitas vezes essas pessoas vão precisar de apoio e acompanhamento a vida toda. Mas, vale ressaltar que cada pessoa dentro do espectro é única. Por isso, dentro do trabalho de desenvolvimento de capacidades cognitivas é possível que elas transpassem níveis dentro do espectro.
Não há cura para o Transtorno do Espectro Autista. Por isso, ele não deve ser enxergado dessa forma, mas há muitas correntes de tratamentos que favorecem e maximizam as capacidades e de funcionamento dessas pessoas, reduzindo seus sintomas, apoiando seu desenvolvimento e aprendizagem cognitiva.
Cannabis Medicinal: um horizonte de possibilidades terapêuticas
O uso de Canabidiol (CBD) no tratamento do autismo, é algo que vem sendo pesquisado por muitas famílias que enxergam nas propriedades do óleo de CBD, uma possibilidade de aliviar sintomas como redução de crises e comportamentos desafiadores, seletividade alimentar e até mesmo favorecendo a interação em situações sociais para pessoas no espectro.
Isso porque os efeitos do tratamento com canabidiol têm sido estudados ao longo dos anos em adultos, crianças e adolescentes. E, esse mesmo composto já apresenta resultados para tratamentos de doenças crônicas como epilepsia e depressão. Confira nossa matéria para conhecer mais detalhes sobre esta corrente terapêutica de tratamento!
Cada pessoa é única e merece ser compreendida em toda sua singularidade. Tudo isso, contribui para uma melhor qualidade de vida para essas pessoas e seus familiares. Fale com nossos especialistas para conhecer mais sobre essa opção terapêutica!