A medicina classifica a dor como um sintoma heterogêneo, isto é, de composição variada.
A sua avaliação envolve a definição adequada da síndrome da dor, utilizando várias ferramentas e reconhecendo diferentes condições que podem afetar a sua expressão e o seu tratamento.
A dor é tradicionalmente classificada como aguda ou crônica.
A dor aguda tem por características sinalizar uma lesão no corpo, ser de curta duração, desaparecer quando cessa a sua causa e por ser facilmente localizada. Como exemplos, podemos citar uma queimadura na mão ou a fratura de um osso da perna.
Além disso, possui função de proteção e de alerta fisiológico.
Por sua vez, a dor crônica é de longa duração (maior que três meses) e sua causa pode não ser conhecida. Não possui função de proteção e de alerta fisiológico, tornando-se uma doença por si só.
O tratamento da dor aguda costuma ser relativamente simples. Geralmente se utiliza anti-inflamatórios para curar a lesão que está causando a dor e analgésicos para amenizar o desconforto causado pela mesma.
Diferentemente, o tratamento da dor crônica é complexo e necessariamente envolve, além de medicação, múltiplas disciplinas.
Para ser bem sucedido recomenda-se que o paciente mude o seu estilo de vida e adote hábitos saudáveis como, por exemplo, alimentação balanceada, prática de exercício físico, psicoterapia, fisioterapia, técnicas de relaxamento, dentre outros.
Acontece que a medicação que vem sendo muito utilizada no tratamento da dor crônica é aquela derivada natural do ópio ou sintética. Em outras palavras, os chamados “medicamentos opioides”.
Esta prática vem causando sérios problemas de Saúde Pública no mundo todo, uma vez que, estes medicamentos causam dependência e vem provocando um número preocupante de mortes em razão de overdose.
Neste estudo publicado pelo Centers for Disease Control and Prevention encontramos dados por mortes de overdose por opioides nos EUA.
“Os opioides estiveram envolvidos em aproximadamente 70% (46.802) das mortes por overdose de drogas durante 2018, representando diminuições a partir de 2017 nas taxas de morte por overdose envolvendo todos os opioides (redução de 2%), opioides prescritos (14%) e heroína (4%); as taxas envolvendo opioides sintéticos aumentaram 10%.”
Na tabela 1 do referido estudo encontramos os números de mortes por opioides prescritos.
No ano de 2017 foram 17.029 mortes, enquanto que no ano de 2018 foram 14.975 óbitos.
Apesar da redução da quantidade de mortes, os números preocupam bastante as autoridades do país.
Outro país que está tendo sérios problemas com alto número de prescrição de medicamentos opioides é o Canadá.
Esta reportagem publicada no The Globe and Mail informa que o país é o segundo maior consumidor per capita de opioides do mundo. Apenas no ano de 2014 houveram aproximadamente 21,7 milhões de prescrições deste tipo de medicamento.
A cannabis como alternativa aos opioides
O quadro acima descrito fez com que cientistas e pesquisadores buscassem uma alternativa para o tratamento com opioides.
Uma das opções para enfrentar este grave problema vem sendo testada e estudada nos últimos anos. Trata-se basicamente da substituição dos opioides por produtos derivados de cannabis.
Os resultados das pesquisas são promissores. Usuários de cannabis medicinal na América do Norte demonstram uma clara preferência por esta alternativa em relação aos opióides. Vejamos.
Nesta pesquisa publicada no ScienceDirect, aproximadamente um terço de uma amostra de pacientes inscritos em um programa canadense relataram a substituição de opioides prescritos pela cannabis, dentre outras substâncias. Vejamos.
“A cannabis é considerada um tratamento eficaz para diversas doenças, sendo a dor e a saúde mental as mais proeminentes. Os resultados incluem alto uso auto-relatado de cannabis como substituto de medicamentos prescritos (63%), particularmente opioides farmacêuticos (30%), benzodiazepínicos (16%) e antidepressivos (12%). Os pacientes também relataram substituir por cannabis o álcool (25%), cigarros / tabaco (12%) e drogas ilícitas (3%)”.
Por sua vez, neste artigo publicado no The Jornal of Pain esse efeito de substituição parece ainda mais significativo.
Como resultados podemos observar:
- O uso de cannabis foi associado a um consumo 64% menor de opioides em pacientes com dor crônica.
- O uso de cannabis foi associado a melhor qualidade de vida em pacientes com dor crônica.
- O uso de cannabis foi associado a menos efeitos colaterais de medicamentos e medicamentos usados.
Em outro estudo publicado no Mary Ann Liebert, Inc., 80% dos pacientes tratados com cannabis medicinal relataram que a sua ingestão era mais eficaz para o tratamento da sua condição médica do que a ingestão de cannabis juntamente com opiáceos.
“Introdução: overdoses de medicamentos prescritos são a principal causa de morte acidental nos Estados Unidos. Alternativas aos opioides para o tratamento da dor são necessárias para resolver esse problema. A cannabis pode ser um tratamento eficaz para a dor, reduz muito a chance de dependência e elimina o risco de overdose fatal em comparação com medicamentos à base de opioides. Os pacientes de cannabis medicinal relatam que a cannabis é tão eficaz, senão mais, do que os medicamentos à base de opioides para a dor.
Materiais e métodos: O presente estudo examinou o uso de cannabis como um substituto para analgésicos à base de opioides, coletando dados de pesquisas de 2.897 pacientes com cannabis medicinal.
Discussão : Trinta e quatro por cento da amostra relatou uso de analgésicos à base de opioides nos últimos 6 meses. Os entrevistados relataram de forma esmagadora que a cannabis forneceu alívio em paridade com seus outros medicamentos, mas sem os efeitos colaterais indesejados. Noventa e sete por cento da amostra “concordou fortemente / concordou” que eles são capazes de diminuir a quantidade de opiáceos que consomem quando também usam cannabis, e 81% “concordou / concordou totalmente” que tomar cannabis por si só era mais eficaz no tratamento sua condição do que tomar cannabis com opioides. Os resultados foram semelhantes para aqueles que usaram cannabis com analgésicos não baseados em opioides.
Conclusão: Pesquisas futuras devem acompanhar os resultados clínicos onde a cannabis é oferecida como um substituto viável para o tratamento da dor e examinar os resultados do uso da cannabis como um tratamento assistido por medicamentos para a dependência de opioides”.
Concluímos que mais pesquisas se fazem necessárias para se elucidar os mecanismos de atuação dos canabinóides, mas não resta dúvidas que a cannabis se mostra como potencial substituto dos perigosos medicamentos derivados de opiáceos para o tratamento da dor.
A equipe Vikura, em parceria com a Remederi, continuará em busca de material científico que comprove essa alternativa de tratamento que, tudo indica, é mais segura e saudável do que os largamente utilizados atualmente.